06/05/2018

Quando você se apega a uma memória


   Eu senti uma coisa dentro de mim que eu pensei que eu demoraria para sentir: uma pontada de satisfação. Satisfação? De estar vivendo tudo isso. Eu já olhei para aquela foto em que nós dois aparecíamos juntos mais de cem vezes e só agora é que eu sinto que consegui enxergá-la diferente: algo mudou dentro de mim. Eu olho para aquela foto e finalmente consigo sentir uma fraçãozinha de paz, substituindo a angustia e a vontade de rir sarcasticamente por toda aquela situação vivenciada, que subiam sobre a minha garganta todas as outras vezes que eu havia a olhado. 
   Ela é uma pessoa muito bonita, muito atraente, e o momento foi engraçado, eu estava nervosa, não conseguia parar de sorrir, não conseguia manter meus olhos sobre ele por estar extremante envergonhada, desviava-o muitas vezes para as outras pessoas, para o chão, para o céu. Eu estava totalmente constrangida por estar vivendo toda aquela situação porque eu nunca havia imaginado que aquilo realmente pudesse acontecer. Aquilo estava acontecendo mesmo de verdade? Porque parecia tanto com o sonho que eu havia tanto tido por tanto tempo (não só com ele, mas com outras pessoas que haviam "aparecido" na minha vida). E a risada dele era tão maravilhosa, carregava uma paz tão gostosa. E a satisfação que inflava a minha alma quando eu percebia que ele ria com as coisas que eu falava era imensurável. Ele realmente queria me beijar, saca isso? Eu não tinha sacado até o momento h.
   E foi muito bizarro. Senti algo que eu nunca havia sentido antes: eu queria aproveitar aquele momento com todas as forças. Eu estava muito atraída por aquele cara, e tanto que eu não consegui conter a minha alegria e o abracei. Foi um dos momentos mais gostosos que eu já passei, e só de lembrá-lo eu sinto um frio na barriga. Eu estava muito atraída por aquela pessoa.
   E eu criei expectativas, mesmo não querendo. Eu não consegui me controlar, e eu sinceramente acho que não seria possível controlar esses pensamentos que me invadiram logo que tudo passou. Eu estava no ônibus e revivi aquele momento no mínimo umas cinco vezes seguidas, e eu não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. Tudo ainda parecia um sonho. E eu havia sido a protagonista de tudo aquilo.
   Confesso que as expectativas, pouco a pouco, foram me consumindo, até que eu não conseguisse mais não pensar nele. E a ansiedade se instaurou dentro de mim. Eu não conseguia parar de falar dele, não conseguia parar de pensar nele, não conseguia conter a minha vontade de me esbarrar com ele e poder cumprimentá-lo, poder conversar mais com ele, conhecer ele. Mas ai está o problema, a sementinha de toda a enrascada na qual eu estava me enfiando, sozinha: eu estava tentando estender aquele momento vivido tão intensamente por mim para outros, buscando justamente poder sentir novamente toda aquela energia que eu havia sentido antes.
   E eu corri atrás dele, como nunca corri atrás de ninguém: cumprimentei ele quando talvez ele fosse passar reto por mim, tentei usar as redes sociais para mostrar que eu realmente tinha interesse em conhecer mais ele, em conversar com ele, mas ele não fez nada. E, por fim, me arrisquei ainda mais e abri o meu coração para uma das pessoas que julgo ser uma das mais próximas dele, e eu fiquei ansiosa pela resposta dele. E hoje, contudo, eu vejo que ele já tinha me dado a resposta que eu tanto precisava. 
   Só agora eu estou realmente sentindo essa resposta, que julguei por muito tempo não existir porque eu não queria mesmo acreditar nela: ele não tinha interesse em estender aquele momento vivido por nós dois. E, se for pensar, a intensidade daquilo provavelmente foi diferente para nós dois. Eu coloquei expectativas demais, e eu não me sinto culpada por isso.
   Eu não sou culpada por isso: é totalmente normal fazer isso. Ele é uma pessoa com uma energia tão boa, eu estranharia se eu não me atraísse por ele. E eu entendo, agora, o porquê de eu ter querido tanto que todas essas expectativas se concretizassem: tudo parecia tão possível. 
   Hoje eu olho para essa foto e vejo que eu exagerei, e ai que está: isso não é um problema. Certo, isso realmente me causou um problema, mas eu justificaria isso pelo seguinte fato: eu nunca havia vivido tudo isso, então possivelmente eu não saberia como encarar essa situação, e isso é sempre o que mais incomoda: quando eu me vejo impotente diante da realidade. Eu exagerei sim, mas porque eu vivi aquilo de uma forma tão intensa que eu queria estender aquele momento. Eu sinto demais, e isso nunca vai ser um problema, ou pelo menos nunca deve ser. 
   O sorriso dele é tão lindo. Ele é uma pessoa tão linda, por fora e provavelmente por dentro também. E eu espero mesmo poder conhecer ele mais um pouquinho, porque ele parece realmente ser uma pessoa com uma energia tão boa. Mas eu não preciso disso, de me sentir como uma perdedora. De me sentir inferior a ele: eu não sou. Ele não tem culpa, e muito menos eu tenho culpa. 
   Hoje você possivelmente só tem olhos para ele, mas ele não é a única pessoa que você vai achar atraente nesse mundo, mulher, então pare de te se sentir tão machucada com o "não" dele. E ele claramente não é a única pessoa que vai querer te beijar. E com certeza você passará por outros momentos como esse, então se acalme. Deixa de querer ser radical, você consegue lidar com toda essa situação: você está conseguindo lidar. Talvez você não acredite em mim, mas você está conseguindo lidar com tudo isso! Dê mais créditos a você e pare de se sentir como uma pessoa azarada, porque você não é. 
   E da próxima vez que eu olhar para ele, espero que eu consiga não me sentir mais tão mal. Eu espero que eu consiga olhar para ele e vê-lo como uma pessoa normal, como ele realmente é. Nem mais, nem menos: normal. E eu não preciso tentar me fazer esquecer daquele momento: jamais. Eu só preciso entender, compreender com o meu coração, que aquilo aconteceu sim, mas ficou somente ali: limitado dentro de uma caixinha que eu quero manter sempre na minha memória, porque foi um momento tão bom! 
   E ao olhar essa foto, e ver como ele sorri e me lembrar de tudo o que aconteceu, eu sinto que estou finalmente conseguindo enxergar tudo isso com um outro olhar. Afinal, ainda bem que eu vivi tudo isso, todas essas emoções! Ainda bem...

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